domingo, 21 de novembro de 2010

Os primeiros dias fora do hospital (05/10/2010 a 20/10/2010)

Chegamos no apartamento carregando várias malas, mochilas e bolsas. Todas elas cheias de presentes que a pequena tinha ganho enquanto esteve internada. Incontáveis bonecas, bichos de pelúcia, cadernos, quebra-cabeças, canetas, lápis-de-cor, blocos de anotação, jogo da memória, massinhas de modelar... Muitas pessoas, conhecidas e desconhecidas, nos enviavam mensagens de carinho, apoio e força. E Ana Luiza estava adorando tudo isso.

Enquanto a preocupação da pequena era o McLanche Feliz que Marcos comprou assim que saímos do hospital e que ela estava louca para devorar (e devorou!), a minha eram as recomendações e precauções que os médicos haviam nos dado.

Eu ainda estava meio assustada. Durante os últimos 3 anos, Ana Luiza não tinha tido sequer um resfriado. Eu não sabia mais o que era dar remédios no horário certo, monitorar sinais vitais o tempo todo, triplicar a higienização no preparo de alimentos e nos cuidados pessoais. Os médicos disseram que qualquer alteração, e mesmo que ela tivesse apenas 37,5ºC de temperatura, deveríamos voltar correndo para o hospital.

Os médicos tinham dado tantas informações sobre os cuidados que eu não sabia por onde começar. Mas o Vovô Calmon já havia limpado toda a suíte do apartamento e vovó Eliane também estava preocupada em deixar tudo no lugar a espera da pequena. Todo mundo estava apreensivo, todos querendo ajudar e graças a Deus podíamos contar com o amor e carinho dos nossos pais.

Ana Luiza estava feliz por ter saído do Hospital. Os médicos já tinham nos informado que as reações da quimioterapia se manifestariam imediatamente, pois o protocolo de tratamento que ela estava fazendo, utilizava várias drogas e em altas dosagens. A queda do cabelo ocorreria logo, assim como as náuseas, enjoos, falta de apetite e o risco de infecções pela queda da imunidade.

Aproveitando que a queda na imunidade demoraria alguns dias, fomos cortar o cabelo e aproveitar para passear de Metrô até o shopping onde ficava o salão de beleza. Ao chegar ao salão o primeiro drama começou. Inicialmente ela detestou a ideia de ficar “com cabelo de menino”. Mas o cabeleireiro fez um corte bem moderno e ela adorou. Ela estava adorando o novo “look”. Ela conseguia se alimentar normalmente, não teve nenhuma alteração. Ainda estava curtindo os presentes todos e as visitas. Os efeitos colaterais da quimioterapia, ela pouco sentiu. A única vez que ela apresentou um episódio de vômito, foi no segundo dia em casa. A médica havia receitado 3 medicamentos para enjoo (Plasil, Dramin e Vonau) caso ela tivesse vômitos. Se ela estivesse bem, eles poderiam ser suspensos. Como Ana Luiza estava bem, resolvemos suspender os 3 no segundo dia e obviamente ela passou mal. Depois, notamos que para ela ficar bem, sem ficar nauseada e reclamando de odores, era necessário dar continuamente o Dramin e o Vonau. Assim ela se alimentava melhor e o que comia ficava no estômago.

Ela ainda tinha mais duas aplicações de quimioterapia para fazer, antes de internar novamente para mais uma aplicação “grande”. Após 7 dias da primeira internação, lá fomos nós para o setor de quimioterapia do hospital. Ela estava tranquila. Ficou apenas um pouco apreensiva pois o acesso seria feito no cateter implantado, mas foi tudo ótimo. Ela não sentiu nada.

Ela continuou indo ao hospital para as consultas com a psicóloga e só reclamou do horário: “Credo mãe, porque essa Leila tem que marcar essa conversinha tão cedo!?!”

A psicóloga, desde a primeira consulta com Ana Luiza, quando ela ainda estava internada, disse que ela era muito inteligente. Que ela tinha um vocabulário muito rico e entendia tudo o que estava acontecendo. Ela tinha um QI elevado para a idade e era capaz de compreender tudo sobre a doença e a situação em que ela se encontrava. Pediu que a gente explicasse tudo a medida que ela perguntasse e sempre fizéssemos isso de forma muito objetiva e tranquila.

Na primeira consulta, deixou claro para nós dois, Marcos e eu, que Ana Luiza deveria ser tratada normalmente, que Ana Luiza deveria ter uma vida normal. Enquanto ela falava eu pensava: “Normal?! Vida normal? Como?!?!”

Ela disse que precisávamos manter a disciplina, as regras, os horários, a rotina. Ana Luiza precisava “sentir” que aquilo era um tratamento. Pediu que não a “mimássemos” demais, sob pena de ter uma filha que no futuro, não teria interesse em ficar boa, pois ficar doente era “legal”. Pediu que a gente incentivasse uma vida normal. Que era importante ela caminhar sozinha, fazer as coisas sozinha. Nada de carregar no colo a todo momento, nada de tratá-la como um bebê e sim como a criança inteligente de 7 anos que ela era.

Marcos levantou a plaquinha do “eu já sabia”. Eu vesti a carapuça. Tudo que eu queria era ficar segurando ela no colo, como se de alguma forma o abraço pudesse tirar aquela doença horrorosa de dentro dela. Quando a psicóloga falava em vida normal, só conseguia pensar na nossa vida em Manaus: aquilo sim era normal. Acordar cedo, deixá-la na escola, passear, ir na churrascaria predileta dela, tomar sorvete, andar de bicicleta, jogar Nintendo Wii, fazer reuniões com os amigos em casa, fazer guerra de balão d'água no condomínio, passear com o Luck, fazer mil recadinhos e espalhar pela casa, ir buscá-la na casa da tia Luciana toda suada de tanto correr com a Darah, brigar pra ela ir tomar banho, brigar pra ela sair do banho, banho de mangueira, colocar ela dentro do carrinho de supermercado, assistir Discovery Kids, esconder as lembrancinhas dos aniversários de criança para o papai não comer todos os doces... aquilo sim era normal. Nada do que estávamos vivendo naquele momento era normal.

Eu precisa entender que nossa vida havia mudado para sempre. Mas a dor ainda era grande. Eu ainda sentia (na verdade, ainda sinto), muita dificuldade em acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Mas eu precisava encarar a situação.

Na primeira consulta de acompanhamento, Ana Luiza precisaria submeter-se a um exame de sangue antes de ser avaliada pelos médicos. Ela estava apavorada com as agulhas. Os bracinhos ainda estava cheios de hematomas, mas ela cedeu e, contando até três, respirou fundo e deixou a enfermeira picar o braço.

O resultado mostrou que apesar dela estar radiante, feliz e tranquila, seu organismo estava praticamente sem qualquer defesa. Leucócitos e demais componentes da série branca do sangue estavam praticamente zerados. O valor mínimo de leucócitos é de 1500, Ana Luiza estava com 112. Aquilo deu um desespero. Imaginar o corpo da minha filha sem qualquer defesa, era assustador. A médica informou que ela só poderia internar para fazer o próximo ciclo de quimioterapia, se esse valor subisse, no mínimo, para 700. Além disso, ela não poderia ter nenhuma febre ou infecção. O próximo exame seria antes de internação. Eu não iria morrer antecipadamente. Se tem algo que realmente temos aprendido, é viver cada dia de uma vez.

Fizemos nosso primeiro passeio. Em um dia frio, mas não tanto quanto os anteriores, fomos conhecer o Parque Ibirapuera. A médica disse que poderíamos passear, desde que fossem locais abertos. Nada de shopping, cinema e afins. Ana Luiza ficou radiante logo que chegou! Dezenas de crianças, cachorros de diversas raças, pessoas com visuais de “tribos”, tudo muito diferente. E, como ela pôde constatar também, as diferenças também no nosso estilo de vida. Ela estava louca para ir aos inúmeros brinquedos do parque, mas a presença de outras crianças e mesmo a falta de uma higienização especial a impediria. Ela ficou chateada, claro: “Como o passeio pode ser legal se não posso brincar”? Dizia muito chateada. Marcos prometeu a ela que no próximo passeio, eles andariam em uma bicicleta diferente, uma bicicleta para 2 pessoas. Ela imediatamente abriu um sorriso: “Então eu vou atrás e não vou pedalar, é tu que vai fazer força!”.

Mas uma mudança boa também era notada. Ela praticamente já não virava o rosto para evitar a visão dupla e também já atendia o telefone usando o ouvido esquerdo. Para nós, aquilo significava a esperança de que o tumor já não estava pressionando tanto as estruturas dentro da cabeça dela, ou seja, ele poderia estar diminuindo. Esperança e fé.

Na segunda aplicação de quimioterapia “menor”, ao levantar da maca para irmos pra casa, tufos de cabelo ficaram no travesseiro. Me deu um frio na barriga. Agora Ana Luiza perceberia que a vida realmente estava diferente.

Sentada no sofá, assistindo televisão com a tia Camila, ela passou a mão no cabelo, saiu um tufo enorme na mãozinha e ela disse: “Nossa! Meu cabelo tá caindo muito, né tia?” E continuou assistindo televisão. Parecia não se importar. Mas de “tempos em tempos” ela ia até o espelho do banheiro, olhava-se e via que tudo “parecia” normal. Apesar do cabelo estar caindo MUITO e RÁPIDO, ela não conseguia notar a carequinha. De frente, ainda parecia ter muito cabelo. Com o passar dos dias, o cabelo ainda cairia muito, mas inicialmente ver aquele tanto de cabelo no chão não a incomodava, enquanto ela olhasse no espelho e parecesse “normal”.

Saímos para passear, fomos até Jundiaí passar o dia com amigos maravilhosos e que Ana Luiza sempre gostou: Tio Alencar e tia Nalva. Ele, que tinha perdido o pai recentemente para o Câncer, preparou toda a casa e o almoço para receber a visita especial. Ela adorou o passeio. Conversou bastante, comeu razoavelmente bem e o cabelo caindo demais. Fomos até o parque da cidade, e naquele dia eu notei que ela já estava entendo a mudança. Ela viu duas meninas brincando de bola. A mãe delas convidou Ana Luiza e ela, quietinha e cabisbaixa, disse que não podia. Nessa hora, ela quis ir pra casa. Disse que não tinha a menor graça ir passear e não poder brincar.

A noite, na hora em que nos preparávamos para dormir, Ana Luiza notou que estava ficando careca. Ela foi para o banheiro, para mais uma “checagem” e ao notar a cabecinha com pouco cabelos começou a chorar e me chamou baixinho: “Mamãe, meu cabelo caiu muito. Eu gostava tanto do meu cabelo e agora tô ficando careca”. Ela começou a chorar, soluçando, pela primeira vez. Era um choro sentido, dolorido demais. Ela não gritou e nem se irritou. Marcos veio até o banheiro e nos arrastou de volta para o quarto. Nos sentamos na cama. Ela, no colo do Marcos e nós três, abraçados, choramos muito. Deixamos ela chorar. Ninguém falava nada. Parece que naquele momento caiu a ficha de todo mundo. De coração muito apertado, Marcos começou a explicar que o cabelo nasceria de novo E que quem devia chorar era ele, que também estava careca, mas o cabelo não nasceria mais. Ela deu um sorriso e obviamente, concordou.

Ela finalmente se abriu e disse que não queria ficar careca porque no hospital tinha visto muitos carecas, mas nenhuma menina, só meninos. E ela seria a única menina careca. Pacientemente, expliquei que ela não via meninas porque elas usavam perucas, lenços ou chapéus. Que muitas mulheres também faziam esse tratamento e que da próxima vez que fôssemos ao hospital, mostraria algumas delas.

No dia seguinte ela ainda estava chateada. Toda vez que se olhava no espelho, apontava para a cabeça e fazia uma carinha triste. No terceiro dia, já nem se importava mais. Perguntei se ela gostaria de cortar o cabelo todo, para tirar os fiapos soltos e ela foi veemente: “Não, mamãe! Deixa meu cabelo aqui! Se ele cair tudo bem, mas ele ainda não caiu todo!” Explicamos que tínhamos guardado o cabelo dela para fazer um peruca bem bonita. Ela não quis nem ouvir ou mesmo ver nos sites mulheres com peruca!

Recebemos dezenas de visitas. Pessoas que ainda não conhecíamos ligavam ou mandavam e-mail pedindo para nos visitar. Na internet, aumentava o número de pessoas querendo acompanhar e nos ajudar de alguma forma. Algumas pessoas, , insistiam para que a gente aceitasse valores em dinheiro, para ajudar no tratamento. Outras tantas, não deixavam de ligar e perguntar, a todo momento, como tudo aquilo tinha acontecido. Foi aí que resolvi começar a escrever no blog. E minha inspiração para a escolha do nome, foi o que a psicóloga havia dito alguns dias antes: “Vida normal, mãezinha!”

Na véspera da internação, finalmente tivemos a constatação: Ana Luiza estava com a audição perfeita nos dois ouvidos! Ela submeteu-se a uma audiometria no hospital e o resultado apontou que ela estava com a audição perfeita nos dois ouvidos. E, visualmente, o olho esquerdo também parecia normal. Perguntei se ela ainda via “de dois” e ela disse que não. Só nos restava a dúvida se aquilo era o efeito dos corticoides diminuindo o edema ao redor do tumor ou se já era a quimioterapia fazendo efeito. Não podíamos deixar de agradecer às orações de todos, em favor da nossa filha. Mas não podíamos deixar, principalmente, de agradecer a Deus por esta primeira vitória.

Chegava o dia de mais uma internação. Alguns dos meus familiares estavam em SP: Tio Alex, meu irmão, minha cunhada Aline, tia Camila e vovó Aldenora. Ana Luiza não queria voltar ao hospital de jeito nenhum. Estava apavorada com a possibilidade de tomar picadas. Entretanto era preciso repetir o exame de sangue e levar o resultado para a médica, na consulta pré-internação. Aquele valor não saía da minha cabeça: “Tem que dar mais de 700! Tem que dar mais de 700!”

Ao abrir o resultado dos exames, os leucócitos estavam acima de 3000, totalmente dentro da normalidade. Me deu uma felicidade tão grande! Uma vontade de pular de alegria. A médica olhou para Ana Luiza e rindo disse: “Você é bem forte, hein mocinha?!?” Marcos perguntou sobre a melhora do ouvido e da visão e a médica foi cautelosa: “Provavelmente esta resposta é devido à quimioterapia e aos corticoides, mas definitivamente, um bom sinal”.

Marcos e eu nos olhamos e a sensação que tive foi que respiramos juntos e aliviados. Felizes da vida, fomos para o 1º andar, regularizar os trâmites da internação. Como ainda era cedo, a médica disse que se poderíamos dar entrada no hospital um pouco mais tarde, assim a gente poderia aproveitar o tempo e passear um pouco com ela. Ana Luiza olhou para o Marcos e pediu: “Pai, podemos ir comer mais um Mclanche feliz?” Marcos riu, sabendo que ela estava mais a fim dos brinquedinhos do que da comida em si. Mas, como comer, principalmente em véspera de quimioterapia, era fundamental, nós fomos.

Voltamos ao hospital para a internação e Ana Luiza estava ansiosa demais, falando muito, rindo. Na verdade, eu, que conheço minha pequena, sabia que ela estava preocupada, pois aquela euforia toda não era de alegria. Era nervosismo. Chegamos ao hospital e minha cunhada foi ao banheiro da recepção. Ana Luiza pediu para ir junto. Chegando ao banheiro Ana Luiza confidenciou a ela: “Tia Aline, posso te falar uma coisa? Você promete que não conta para mamãe? Eu estou morrendo de medo desse hospital! Eu estou rindo e tudo mais, mas estou com muito medo, isso sim! Mas não queria que minha mãe ficasse preocupada”

Depois dos trâmites feitos, Aline me chamou no canto da sala e engolindo o choro, contou o que Ana Luiza tinha dito. De onde estávamos, olhei para Ana Luiza e via ela abraçando o recepcionista do hospital, falando alto, cumprimentando todo mundo, contando piada. Uma alegria só.

Eu já sabia que ela estava apavorada, mas sabia também que ela era uma fortaleza. Eu também precisava ser, pois a quimioterapia desta vez não seria fácil.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Primeira internação (24/9 a 04/10)

Parte II: É possível piorar uma tragédia?

No dia em que os médicos vieram nos trazer os resultados dos exames, minha sogra tinha dormido comigo no hospital. Quer dizer, eu tinha dormido. Minha sogra ficou de olho arregalado a noite inteira, ao lado de Ana Luiza.

Enquanto as mães acham que sabem de tudo, as avós tem certeza que sabem.

Apesar do hospital liberar somente o acompanhante para passar a noite, as enfermeiras estavam permitindo um “acompanhante do acompanhante”. Para mim era a perfeição, pois poderia passar todas as noites no hospital com ela, e alguém poderia ficar alerta em algumas noites para eu tentar dormir. Normalmente, era o Marcos. Mas, sabendo que ele também precisava dormir, eventualmente ele trocava essa tarefa com minha mãe ou a dele.

Mas enfim pude descansar e ela pôde testemunhar a visita das 6h da manhã do neurocirurgião. Eu ainda custava a acreditar que um médico visitasse seus pacientes nesse horário. Era muita dedicação, muito amor a profissão. Era impressionante, isso sim!

Ainda era cedo e Marcos tinha acabado de chegar para que ela pudesse ir para o apartamento tomar banho. Eu saí para pegar um café na máquina que ficava bem ao lado do quarto, quando notei a presença dos dois oncologistas chefes do Hospital: uma médica e um médico. Desisti do café. Cumprimentei-os com um aceno e imediatamente me deu um frio na espinha horrível, pois além de tudo, notei que eles também estavam me observando. Aquele olhar estranho, de que tinham algo pra falar mas não sabiam como. Eu já conhecia aquele olhar. Eu tinha pavor daquele olhar.

Eles se aproximaram de mim, bem na hora em que eu voltava para o quarto e pediram pra conversar conosco. Apenas coloquei a cabeça pra dentro do quarto e chamei o Marcos. Pedi para minha sogra ficar com Ana Luiza enquanto conversávamos.

Antes que eles começassem a falar, eu já fui logo perguntando: “Já saíram os resultados dos outros exames?” A médica me olhou bem nos olhos e disse: “Sim e apareceram algumas coisas”. Respirei fundo e olhando para o outro médico, como se, diferente da outra médica, ele pudesse me dar alguma notícia boa, perguntei: “O que apareceu? Me fala. Pode falar. Pode falar doutor.”

E eles começaram a falar: “Infelizmente Ana Luiza está com metástases nos pulmões, na medula óssea, em algumas vértebras da coluna dorsal e na fíbula da perna esquerda”.

Enquanto eles falavam, a imagem deles ia ficando distorcida pelas lágrimas nos meus olhos. Eu segurava o choro descontrolado, mas as lágrimas eram impossíveis de segurar. Já não conseguia enxergar nada. Fiquei muda por alguns segundos e abaixei a cabeça enquanto eles, pausadamente, falavam tudo que eu não queria ouvir.

Marcos segurava minha mão e com os olhos desesperados, eu não conseguia sequer falar alguma coisa. Respirei fundo, limpei as lágrimas e perguntei o prognóstico e as reais chances de cura. Eles olharam-se e a médica respondeu: “Esse câncer é muito agressivo, mãe. O prognóstico é pior em virtude das metástases distantes. As chances de cura são de apenas 20% e em contrapartida, 80% das crianças vão a óbito durante o tratamento, que precisa ser tão agressivo quanto o tipo de câncer”.

O médico interrompeu a colega e disse: “Mãe, mesmo que fosse apenas 1% de chance, para sua filha isso significa 100%. É assim que você tem que pensar. Nós vamos instituir o melhor tratamento, precisamos apenas da confirmação do tipo de células cancerígenas para podermos determinar o protocolo de quimioterapia e as demais terapias. Você precisa ser forte. Ela vai precisar de você”.

Marcos me abraçou e eu não aguentei. Comecei a chorar desesperadamente. Eu pensava: “Forte?! Mais forte do que tenho tentado ser? Eu não vou conseguir! Ô, meu Deus, me ajude!! Eu não tenho forças!!”

Minha sogra veio até a porta para avisar que o pai biológico de Ana Luiza estava no telefone, avisando que iria subir. Eu chorava demais. Não conseguia nem pensar direito, quanto mais falar ou conversar. Pedi pra minha sogra avisar a todos, que aguardassem lá embaixo. Não queria que subisse ninguém. Eu precisava me acalmar para dar esta notícia tão devastadora.

Enquanto Marcos conversava com a mãe dele, explicando o ocorrido, eu saí andando pelo corredor do hospital e parei em frente a janela do 5º andar. Caí de joelhos no chão, e olhando para o céu, chorei e implorei para que Deus não levasse minha filha. Marcos tentava me levantar, mas eu tinha desabado e só gritava e implorava que Deus curasse minha filha. De relance, vi algumas pessoas que me observavam, lamentando mas compreendendo. Vi alguns funcionários do hospital que se compadeciam, mas que sabiam que aquilo era normal. Além de normal era necessário. Eu precisava chorar. Precisava gritar.

Marcos me abraçava. Ele não tinha o que falar. Ficou calado me dando todo o apoio que ele podia. Ele estava gelado. Abraçada, eu ouvia o coração dele batendo rápido, de desespero também. Nós precisávamos nos acalmar para voltar para o quarto de Ana Luiza e ficar com ela. Quem precisava de força era ela. Se choro e desespero servia para alguma coisa, com toda certeza não era para ajudá-la ficar boa. Ela precisava de carinho, de amor, de cuidado, de alegria. Nós precisávamos ser fortes para fortalecer ela.

Voltei para o quarto e o pai biológico de Ana Luiza insistia para subir. Eu não conseguia falar, mal conseguia respirar. Só queria ficar calada, olhando minha filha. Pedindo a Deus por ela. Mas eu não podia, jamais, negar que o pai biológico dela, também compartilhasse desse momento. Pedi que Marcos conversasse com ele, eu não teria condições de explicar nada. Eu recusava a acreditar nas metástases, no prognóstico, nos riscos...

O pai e a avó biológica de Ana Luiza subiram e Marcos os levou até a sala de estar, que ficava bem próxima ao quarto de Ana Luiza. Ele começou a explicar sobre as metástases e falou da gravidade do quadro dela. Infelizmente a reação não foi a que esperávamos. Nesse momento, o pai biológico de Ana Luiza tomou a palavra e disse que a partir daquele momento, as coisas seriam diferentes. Que ele subiria a qualquer momento e que não ficaria esperando para subir, pois ele era o pai dela.

Aquilo foi um soco no estômago. Então tudo que importava ao pai biológico no momento de receber uma notícia daquelas, era se ele poderia subir a qualquer momento ou não? Se ele estaria ou não com ela no momento que lhe fosse conveniente ou não? Se ele teria prioridade ou não?

Se ele, ele, ele, ele... Ah o remorso... Sentimento lindo, que chega na hora errada. Tantos anos para “lutar” para ser prioridade na vida da filha e vem querer ser prioridade uma hora dessas?! Sem se importar com os avós, os amigos, os familiares que sempre estiveram presentes na vida da criança e que nos últimos dias, haviam passado por todo o pesadelo conosco?! Pessoas que naquele momento se revezavam para passar alguns minutos ao lado dela. Ele julgava-se mais importante, porque era “sangue”. Ele queria a prioridade para ficar ao lado dela, mas o intuito era acalmar o próprio coração, que transbordava remorso pelos olhos.

Tantas coisas poderiam ser comentadas no momento daquela notícia. Até mesmo o silêncio seria mais adequado. Mas fazer-se de pai, o paizão, o pai vítima, o pobre pai, que pouco tinha para oferecer a filha, mas que nunca deixou de viajar de férias ou curtir a noitada com os amigos. Anos a fio. A mesma vidinha de sempre... Aquilo não era hora. Não era adequado falar aquilo para o homem que esteve com Ana Luiza durante 2/3 de sua pequena existência, que estava em frangalhos e desmoronando, pelo pavor de imaginar perder sua filha. Filha sim. Filha de verdade.

Marcos deixou-os falando sozinhos. Sabiamente, concluiu que de nada adiantaria tentar esclarecer que aquele momento não era apropriado para discutir “quem subiria” e “que horas subiria”.

Ele foi para o quarto e a família veio atrás. Eu estava com Ana Luiza e não conseguia enxergar mais nada. Não queria falar. Não queria acreditar. Cumprimentei-os. Mas me mantive calada para não chorar na frente dela.

A avó ficou conversando com Ana Luiza e o pai biológico pediu para falar comigo em particular. Fomos até a sala de estar novamente, nos sentamos no sofá e ele começou dizendo que já tinha me dado o tempo que eu havia pedido, mas que agora eu precisava conversar com ele, pois eu sequer olhava em sua cara. Pasmem, ele pediu que eu o respeitasse.

O fato é que eu não consigo sequer lembrar das palavras que ele falou posteriormente. Só sei que o interrompi, bati bem forte em sua perna e gritei um sonoro palavrão: “Vá tomar no seu … !” E saí de perto dele! Foi a única coisa que consegui falar. Até me senti mal. Mas foi isso mesmo que falei. A conversa não durou 2 minutos.

Eu lá tinha cabeça pra conversar alguma coisa?! Pra respeitar alguém?!? Principalmente quando esse alguém nunca havia me respeitado na vida?!?! Minha filha única, razão da minha vida, com metástases de células cancerígenas no corpo inteiro e ainda ter que aturar dor de remorso e falta de bom senso dos outros?!?!

Segurando o choro e tentando controlar a raiva, voltei para o quarto com Ana Luiza e a avó estava ao seu lado. Ela imediatamente puxou conversa comigo, dizendo que eu não podia negar a presença do pai biológico...

Em que momento eu havia negado a presença de alguém?!?! Eu me perguntava! Onde esse povo está com a cabeça!?!? Toda as vezes que vieram ao hospital, tiveram acesso a Ana Luiza! Desde o início. Sempre que ligaram, foram atendidos! Eu, em frangalhos, passando pelo pior momento de toda a minha vida, tendo que me segurar para não desmoronar em frente a minha filha e eles forçando uma situação absurda?!?

Sem falar muita coisa, apenas segurei o fôlego e saí do quarto batendo a porta. Fui correndo para o banheiro que ficava ao lado do elevador. Chorei. Gritei. Implorei a Deus, para ter calma e lidar com essas pessoas de forma tranquila. Comecei a chorar alto. Era uma mistura de desespero e raiva. Tristeza e impotência. Decepção e pavor. Mas eu precisava ter discernimento. Minha filha era maior que tudo aquilo. Eles também estavam sofrendo e eu precisava perdoá-los. Mas é difícil perdoar quem deveria pedir perdão. Acho que essa foi mais uma lição na minha vida.

Marcos tentou me acalmar. As enfermeiras estava preocupadas. Me levaram para o posto de enfermagem e eu consegui me acalmar. Sentada no canto do posto, ouvi a voz de Ana Luiza: “Cadê minha mãe?! Mãããe, cadê você?!” Ela gritava no meio do corredor, segurando o suporte de soro. Limpando as lágrimas eu me ajoelhei diante dela. Ela pediu que eu parasse de chorar e pedisse desculpas para a avó dela, por ter batido a porta do quarto.

Há aproximadamente um ano atrás, Ana Luiza tomou um castigo em casa, por ter batido a porta na minha cara. Eu havia pedido que ela largasse os brinquedos e fosse para o banheiro tomar banho. A pequena subiu as escadas batendo o pé e fechou porta do quarto com toda força. Ela sabia que aquilo era inaceitável. E “mandou” que eu pedisse desculpas por ter batido a porta tão forte.

Entrei no quarto de mãos dadas com ela e pedi desculpas a sua avó. Ana Luiza ainda fez mais: Pediu que todo mundo se abraçasse e “fizesse as pazes”. Nos abraçamos e eu, tentando manter a calma, sentei ao lado dela na cama. Fiquei pesando: “Eu preciso ter calma. Preciso relevar tudo isso. Tenho que ter serenidade...”

Inacreditavelmente, eles puxam a conversa de novo: exigindo o direito de subir ao quarto de Ana Luiza na hora que quisessem. E lá começa uma discussão bem acalorada, desta vez em frente da Ana Luiza. Fui chamada de descontrolada, de maluca... com um sorriso nervoso no rosto, o pai biológico de Ana Luiza insistia em me chamar de descontrolada. Aquilo foi terrível. Mas eu realmente estava descontrolada, mas com motivos. Ele tinha razão, só não tinha um pingo de noção.

Marcos finalmente perdeu a paciência e soltou umas verdades para eles. Quem eram eles para exigir e se acharem “pais e avós de verdade” depois de anos de abandono? Nos últimos três anos, em que ele morava definitivamente com Ana Luiza, o pai biológico tinha ligado e ido visitar uma única vez! Desde o início da minha gravidez, a rejeição da parte dele sempre esteve presente.

Ana Luiza caiu em prantos e foi para o colo do Marcos. Enquanto eles se retiravam do quarto, afirmando que não eram bem quistos naquele lugar, Ana Luiza dizia que era tudo culpa dela, pois nada daquilo tinha acontecido antes, só aconteceu por culpa dela. Chorando, nós dois dissemos que não era culpa de ninguém e tentamos explicar de forma bem objetiva tudo que tinha acontecido. Apesar de ser criança, Ana Luiza é muito inteligente e entendeu perfeitamente. Parou de chorar e ficou bem.

Eles desceram para a recepção. Eu fiquei com ela e Marcos desceu atrás dos dois. Ele tentava se acalmar e explicar para os nossos pais o que tinha acontecido. A confusão continuou lá embaixo. Meus pais, que ainda não sabiam da notícia sobre as metástases, tentavam acalmar os ânimos entre Marcos e o pai biológico. Marcos ainda teve estômago para ouvir, dentre outras coisas, “que ele não era pai dela”, e que por isso, tampouco “decidia alguma coisa”, “quem era ele, para decidir algo se não era pai dela de verdade?”.

O pai biológico ainda disse, que dali para frente, Marcos não precisaria fazer mais nada, pois o “pai dela de verdade” tinha chegado. Tudo isso acontecendo na recepção do hospital. Inúmeras pessoas assistindo a discussão. E nessas horas, quem tem veia artística se aproveita. Quem está acostumado a esse tipo de baixaria, deita e rola. Os seguranças do hospital se aproximavam, mas sem nenhuma atitude, já que as ofensas eram apenas verbais.

Marcos teve que engolir os atropelos de uma pessoa que, durante longos 7 anos, se escondia no campo tranquilo da desculpa esfarrapada e prosseguia levando com a barriga o abandono disfarçado de inúmeras coisas. Uma pessoa que antes mesmo de todo esse pesadelo começar, entrou na justiça para conceder, após 7 anos de atraso, uma pensão alimentícia de valor irrisório, algo que hoje, não nos ajudaria nem com os remédios para enjoo que ela tem tomado. O dia em que Marcos e eu vivenciávamos o pior dia de nossas vidas, ele conseguiu arrumar um jeito de piorar tudo.

Marcos subiu com minha mãe e deu a notícia para ela de forma um pouco “seca demais”. Acho que depois de tudo nos últimos minutos, ele não tinha cabeça para explicar do modo calmo que sempre faz. Minha mãe passou mal. Quase desmaiando, foi parar no Pronto-Socorro do próprio hospital. Marcos pediu que eu descesse para ajudá-la. Enquanto ele ficava com Ana Luiza, desci para falar com minha mãe. Disse a ela que Ana Luiza precisava de nós duas bem fortalecidas. Que a gente não podia cair agora. Enfatizei que ela precisava reagir e que tudo daria certo. Meu pai tentava se acalmar e pedia que a gente tivesse paciência com a família do pai biológico. Que aquele momento também estava sendo difícil para eles. Meu pai quase implorou para que eu não me aborrecesse ainda mais com eles.

Depois, o pai biológico e a avó subiram. Ficaram pouco menos de uma hora e foram embora. A tarde, a irmã do pai biológico voltou ao hospital para se despedir da sobrinha, pois embarcaria para casa naquela noite. Ela foi a única pessoa que teve bom senso diante da situação. Antes de falar qualquer coisa, me abraçou, disse que me entendia. Sabia da imensa dor que eu sentia naquele momento e entendia, acima de tudo, o sofrimento que eu havia passado quando ainda era mãe solteira. Ela olhou nos meus olhos e senti uma sinceridade que nunca havia sentido da parte dela: “Eu entendo você!”

Acredito que através dela a confusão se acalmou. Posso estar enganada, mas creio que ela auxiliou nessa tempestade e finalmente o desespero foi se dissipando e ocupei minha cabeça com o que realmente era importante.

Tomei uma decisão, após uma noite inteira meditando e pedindo orientação divina, decidi que essa situação não seria mais um problema. Eu teria uma nova atitude diante daquilo e engoliria tudo que fosse necessário, com humildade e confiando nos planos de Deus.

E realmente não foi mais um problema para mim. Nos dias que o pai biológico e sua mãe quiseram ir vê-la no hospital, foram. Os dias que não foram e quiseram ter notícias pelo telefone, tiveram.

Na sexta feira, véspera da nova biópsia, os médicos informaram que Ana Luiza não precisaria passar por mais uma biópsia, pois haviam conseguido identificar o tipo de câncer através da biópsia da medula e que imediatamente iniciariam a quimioterapia. Nos alertaram sobre a agressividade do tratamento e as repercussões principais no organismo dela: Queda imediata do cabelo, queda da imunidade, náuseas, vômitos, perda do apetite, inflamação das mucosas, etc. Nos esclareceram também, sobre os cuidados em casa, sobre a alimentação, higiene pessoal, etc.

Seriam 25 semanas de quimioterapia e cada ciclo de terapia seria composto por 4 dias de aplicação de drogas, sendo que para os 2 primeiros dias, ela precisaria receber a medicação internada e sob monitoração e os outros 2 dias restantes, ela faria no ambulatório do hospital, a cada 7 dias, sendo liberada imediatamente após a aplicação. Por volta de novembro/2010 eles fariam uma reavaliação geral do organismo de Ana Luiza, para avaliar a resposta da lesão à quimioterapia.

Anotei o nome de todas as drogas (Ifosfamida, Vincristina, Doxorrubicina e dactinomicina) e comecei a ler a respeito. Era desesperador. Parei de ler. Drogas que deveriam ser manipuladas com todo o rigor, para evitar a contaminação do profissional que a estivesse manipulando. E tudo aquilo entrava diretamente na veia da minha filha, minha princesa, do ser que representava a minha vida. Que coisa surreal!

Ana Luiza fez 2 dias seguidos de quimioterapia (02/10 e 03/10) no hospital. Enquanto as drogas e os remédios para minimizar os efeitos colaterais entravam em seu organismo, ela pedia comida. E comeu de tudo. E o espírito dela estava inabalável. Obra de Deus, nós não tínhamos dúvidas. Só nos restava agradecer por termos sobrevivido a primeira internação de muitas que ainda viriam e principalmente pela força que nossa pequena estava tendo.

Finalmente, segunda-feira 04/10, depois de 12 dias internada em 2 hospitais diferentes, voo de UTI aérea, 2 procedimentos cirúrgicos, inúmeras picadas de agulha e vários exames complementares, pudemos finalmente levá-la para casa. Mesmo que fosse uma casa emprestada, sem dúvida era um lar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Primeira internação (24/9 a 04/10)

Parte I – Os primeiros dias no Hospital

Logo no primeiro dia, tive uma noite curta. Dormi somente 2h, mas tive a sensação de que pela primeira vez nos últimos dias, havia dormido de verdade. Apesar dos apitos dos aparelhos, a cada mexida da Ana Luiza na maca e do box onde ela estava, ficar bem em frente ao posto de enfermagem, aquelas vozes e barulhos pareciam muito longe.

Levantei da poltrona às 5h40min, cumprimentei os enfermeiros e disse que iria até o vestiário tomar banho e escovar os dentes. Quando voltei do banheiro, o Dr. Sérgio, neurocirurgião, já estava com Ana Luiza. Tomei um susto pois coisa rara (pelo menos pra mim) é ver médico, as 6h da manhã, visitando seus pacientes.

Ele estava lendo o prontuário e se apresentou. A voz mansa, a tranquilidade e o profissionalismo me deixaram tranquila: Ela estava em boas mãos. Durante a visita, ele disse que adorava operar e que ganhava muito bem pra isso... Mas que nem sempre o tratamento inicial é a cirurgia. Ele informou que a equipe de oncologistas pediátricos viria ainda pela parte da manhã para avaliá-la e solicitar os diversos exames que fariam parte do estadiamento, ou seja, da avaliação geral para a definição da estratégia de tratamento e o prognóstico.

Perguntei sobre a tomografia de crânio e face feita há um ano atrás, quando tinha ocorrido o episódio de hemorragia nasal e ele me tranquilizou: “Você está vendo essa região aqui? Não existia absolutamente nada. Sua filha não tinha nada quando realizou este exame. Pode ficar tranquila.”

Ele disse que Ana Luiza estava bem e que poderia sair da UTI, pois assim ela poderia receber visitas e ficar mais confortável. E assim foi feito.

Ana Luiza foi para o apartamento e foi dada a largada para uma bateria de exames que viriam nos dias seguintes: Tomografia Computadorizada de tórax e abdome, Ressonância Magnética de coluna vertebral, Cintilografia Óssea e a Biópsia do tumor e da medula óssea.

Meus pais e meus sogros chegaram imediatamente no dia seguinte. Ficaram no apartamento do tio Cláudio e tia Olímpia (tios do Marcos) e todos eles se revezavam nas visitas, pois só podiam ficar no máximo 3 visitas com o acompanhante no apartamento.

Vi no rosto de cada um deles, o alívio ao verem a neta. Por mais que Marcos e eu confirmássemos que ela estava bem, eles só acreditaram quando a viram e finalmente puderam constatar que apesar da gravidade da doença, ela estava incrivelmente normal.

O pai, a avó e uma das tias biológicas paternas de Ana Luiza também vieram visitá-la. No meio desse turbilhão de problemas, do cansaço dos últimos dias, do nervosismo em relação ao resultado dos novos exames, qualquer outro “problema” seria menor e tinha plena convicção de que independente de quem fosse, tudo que precisávamos eram de pessoas cercando nossa pequena de amor e esperança. E se esse era o intuito deles, com certeza seriam bem vindos. Me coloquei no lugar de cada um deles (pai, avó e tia) e sabia que todos também estavam sofrendo. Cada um a seu modo.

Assim que o pai e a avó entraram no quarto, Ana Luiza os recepcionou normalmente. Tratou-os com o mesmo carinho e educação que ela tratou todas as outras pessoas que a visitavam, tanto conhecidas, quanto desconhecidas.

Me orgulho muito dela por isso. É educada, agradável, simpática e comunicativa. E durante todos os seus 7 anos de vida, nunca ouviu da minha boca, qualquer palavra que desabonasse seu pai biológico. Pelo contrário. As poucas fotos dele e de sua família sempre estamparam os álbuns de nossa família e o número do celular dele sempre esteve disponível caso ela quisesse ligar. Além disso, semanalmente, eu questionava se ela gostaria que eu ligasse para seu pai biológico, para conversar ou falar alguma coisa. A resposta sempre foi negativa, mas não vinha como um sentimento ruim, nem de raiva. Era apenas indiferença devido a falta de contato. E eu sempre respeitei a vontade de Ana Luiza. Se o pai biológico tinha o direito de não procurá-la, a recíproca também era verdadeira. Não me cabia forçá-la, apenas não a deixava esquecer de seu pai biológico.

Logo na primeira visita deles, Marcos chamou o pai biológico para uma conversa reservada na sala de estar do andar em que estávamos. O intuito dele era explicar mais detalhadamente sobre a patologia da Ana Luiza, explicar os procedimentos que o hospital tinha nos dado, sobre as regras de permanência no apartamento, etc. A conversa começou meio “truncada”. O pai biológico não queria ser tratado como “visita”, pois ele era o verdadeiro pai dela. Marcos, pacientemente, disse que todos eram visitas. Que as únicas pessoas que não eram visitas eram Ana Luiza (paciente) e eu (acompanhante). E que todos os outros que quisessem visitá-la seriam tratados como visitas. Como a conversa foi levada para o lado da questão legal, Marcos finalmente esclareceu que já detínhamos a guarda dela e que esse não era o momento para discutir esse assunto. Disse ainda que já tínhamos recebido a convocação para uma audiência e que a justiça se encarregaria de determinar todo o processo.

Eu não sei os detalhes da conversa. Eu não estava lá. Narrei apenas um resumo do que me foi dito pelo Marcos, afinal esse blog não tem como objetivo tratar desse assunto. Essa “briga” pelo amor de uma criança, surgida em momento inoportuno tornou-se um problema desnecessário, mas que infelizmente surgiu. Apenas reafirmo: Meus sentimentos, inseguranças e emoções estão sendo extravasados nestes textos e o que ocorreria dias depois, tem relação direta com esses fatos que narro agora. Me desculpem falar sobre isso, mas vocês me entenderão.

Logo em seguida, o pai biológico dela pediu para conversar comigo. Eu concordei em conversar, pensando que a postura diante da situação fosse totalmente diferente. Imaginei que ele reconheceria a situação difícil em que nos encontrávamos, ou ainda que me prestasse sua solidariedade, pelo menos para nos dar forças e se colocar a disposição no que fosse necessário. Em minha cabeça, o pai biológico de Ana Luiza, teria o bom senso de, pelo menos, não tornar este momento ainda mais difícil. Imaginei que ele perguntaria se Ana Luiza estava precisando de alguma coisa ou se poderia ter algo que ele pudesse fazer para nos ajudar, pois tanto eu quanto Marcos, diferentemente dele, não tivemos tempo para organizar nossas coisas em Manaus, pedir autorização de nossos chefes e viajar. Simplesmente abandonamos o emprego, contando apenas com a solidariedade e compreensão das empresas que nos empregavam.

O fato é que quando notei que ele continuava com o mesmo “perfil” de 8 anos atrás, com o mesmo raciocínio egoísta, onde prevalecia apenas o sentimento de desanuviar o seu coração carregado de remorso, interrompi a conversa e pedi um tempo. Não estava interessada em tratar desse tipo de assunto. Não estava preocupada se ele estava ou não incomodado com alguma coisa, se estava ou não chateado com o fato de estar sendo tratado como “visita”. Naquelas circunstâncias, e pelas regras do hospital, ele era visita sim, tal qual toda a minha família. Isso pouco me importava. Algo infinitamente maior estava acontecendo (e prestes a piorar) e eu pedi que ele me desse um tempo. Que respeitasse o momento que estávamos passando. A conversa durou pouco mais de 2 minutos. Mas acreditei que estávamos acertados. Ele poderia visitar Ana Luiza a qualquer momento, respeitando os horários e cedendo espaço para todos que queriam visitá-la também. E que eu ou Marcos, obrigatoriamente, precisaríamos estar com ela para prestar todos os esclarecimentos que os médicos oncologistas necessitassem, afinal eles não tinham horário certo para fazer a visita.

Enfim, a família continuou conversando e brincando com Ana Luiza, assim como todas as pessoas que vieram visitá-la. Ficaram horas conversando, brincando e Ana Luiza, como sempre, os tratando com muito carinho. Prova de que nunca houve, da parte de nossa família, qualquer tentativa de afastá-los ou denegrir a imagem deles perante Ana Luiza. Infelizmente isso foi algo que tive o desprazer de ouvir durante muito tempo, inclusive tive que ter estômago ao ler o termo “alienação parental” na petição que recebemos alguns dias antes de viajar para SP. Mas a verdade é uma só. E isso deixa meu coração muito tranquilo.

Recebemos muitas visitas, muitas ligações e resolvemos dar notícias pelo twitter, pois estava muito difícil conseguir falar com todos ao mesmo tempo. A nossa conta de celular já estava acima dos mil reais!! Divulgamos a nossa página pessoal para os parentes e amigos, para que eles acompanhassem as informações sobre o estado de saúde dela.

O que não imaginávamos é que pessoas que nunca tínhamos visto na vida, nos ligassem se solidarizando. Outras vieram até o hospital, se apresentaram e, junto de nós, se comoveram com a situação. Gente de todos os cantos do país, ficaram sabendo do ocorrido e nos ligavam. Nossos parentes, amigos, colegas e muitos desconhecidos, passaram a fazer uma corrente de orações em favor dela. Aquilo mexeu muito conosco. E tem nos fortalecido muito até hoje.

Passamos os primeiros dias relativamente bem, afinal tinha convicção de que nada surgiria naquelas imagens. E falando com tanta gente, trocando mensagens de apoio com tantas famílias, não me restava tempo para pensar que poderia aparecer alguma metástase naqueles exames. O olho esquerdo de Ana Luiza continuava ruim. Ela só conseguia enxergar adequadamente se tapasse um dos olhos, ou se inclinasse a cabeça lateralmente. Quando falava ao telefone, só atendia usando o ouvido direito. Enfim, ouvido e olho esquerdo continuavam muito comprometidos pela lesão.

Após estudarem a lesão na base do crânio de Ana Luiza, os médicos optaram por fazer a biópsia do tumor da cabeça, com acesso pelo nariz, na segunda, 27/9. Seria o segundo procedimento, já que ressonância de tórax havia sido feita no sábado, 25/9. A equipe de enfermagem esclareceu os procedimentos da cirurgia, disse que eu poderia acompanhá-la até sala de preparo e que assim que ela saísse da cirurgia, eu ficaria ao lado dela, na Sala de Recuperação da Anestesia.

Perguntei qual a duração média do procedimento e eles disseram que não demoraria mais de 40 minutos. Coloquei a roupa do centro cirúrgico (touca, camisa, calça e propé) e ficamos aguardando a enfermeira que viria buscá-la. Ao chegar na sala de preparo, Ana Luiza começou a chorar. Ela estava com medo. Mas eu estava apavorada. Enquanto a enfermeira empurrava a maca pelo corredor até chegar a sala de preparo, conseguia ouvir meu coração batendo muito alto e sentia meu corpo tremendo inteiro, na tentativa de me manter calma para não cair em prantos.

Chegamos na sala de preparo e parecia um “estacionamento” de macas. Vários pacientes aguardavam deitados e seus acompanhantes ficavam ao lado ou sentados em cadeiras posicionadas na parede do outro lado da entrada. Dentro da sala, diversos enfermeiros e anestesistas. Assim que cheguei, notei duas mulheres acompanhando suas filhas, uma jovem senhora acompanhando a filha de aproximadamente 13 anos e uma mãe bem novinha, acompanhando uma bebê de 2 anos.

Ana Luiza começou a chorar alto. Gritando. Os olhos imploravam que eu ajudasse. Ela pedia que eu fizesse alguma coisa. Pânico define. A médica anestesista chegou perto de nós, me fez algumas perguntas e carinhosamente, passou a mão no rosto de Ana Luiza, enxugando as lágrimas dela e tentando tranquilizá-la. Enquanto ela fazia isso, a enfermeira aplicava um dose de calmante e ela não conseguiu sequer terminar a frase: “ Mamãe, eu tô com muit...” e em menos de um minuto, Ana Luiza adormeceu completamente.

Imediatamente após ela cair no sono, a levaram para o Centro Cirúrgico. Assim que ela passou pela porta, sentei numa cadeira próxima as outras duas mães e comecei a chorar. Não gritei, nem nada. Mas não conseguia me controlar. Em meus pensamento só conseguia pedir que Deus cuidasse dela mais uma vez e que tudo desse certo.

As duas mães, vendo meu desespero, me abraçaram e tentaram me tranquilizar. Uma delas, a mãe da adolescente, que coincidentemente também se chamava Ana Luiza, disse que sua filha fazia tratamento desde os 3 anos de idade e que mesmo com tantos anos vindo ao Hospital ela mesma não se acostumava e entendia meu sofrimento. Ela pediu que eu confiasse nos médicos, pois eles eram os melhores do país, mas que confiasse principalmente no médico dos médicos, Deus.

A outra mãe, da bebê de 2 anos, disse que sua filha tinha sido diagnosticada como tendo um Linfoma, exatamente uma semana depois do aniversário de 1 ano. As duas mães tinham algo em comum: suas filhas era portadoras do mesmo tipo de Linfoma, um dos cânceres mais comum em crianças. E precisavam fazer aplicações de medicamentos (cirurgicamente) no local onde o tumor surgia, para extingui-lo.

Conversando, elas perguntaram de onde nós éramos e o que exatamente Ana Luiza tinha. Comecei a explicar e vi o olhar de tristeza de cada uma delas. Mas ao mesmo tempo, vi a esperança e a fé de duas mães que também lutavam para restabelecer a saúde de suas filhas e senti um amor muito grande vindo das duas.

Enquanto eu explicava, as filhas delas foram levadas também. Ana Luiza, apesar de ter chegado depois, foi a primeira a ser levada para o Centro Cirúrgico. As outras duas saíram alguns minutos depois. Quando olhei no relógio, mais de 1 hora tinha se passado. Tomei um susto. Perguntei ao enfermeiro que estava monitorando a sala de preparo e ele disse que estava tudo bem, que as vezes demorava alguns minutos a mais.

Depois de um tempo, atenta a conversa das duas mães, olhei no relógio novamente: 1h40min já haviam passado. Eu comecei a chorar. Algo tinha acontecido! Foi quando o enfermeiro apareceu e chamou da porta de entrada: “Acompanhante da Ana Luiza?”

Duas mães, duas Anas Luizas. Mas como minha Ana Luiza tinha saído para o Centro Cirúrgico antes, a outra mãe sorrindo, apenas disse: “Vai lá! É sua pequena! Vai ficar com ela!”

E saí andando com o enfermeiro, atravessando o corredor até chegar a Sala de Recuperação da Anestesia. Assim que chegamos lá, vi aquele monte de macas, com pessoas desacordadas, outras chorando muito e outras gritando desorientadas. Ele parou em frente a uma destas macas e disse: “Pronto! Aqui está sua filha! Ela está bem e já deve estar acordando”!

Eu desesperei. Aquela não era minha filha. Era a outra Ana Luiza, a mocinha de 13 anos. Com voz de choro, disse pro enfermeiro que aquela não era a “minha Ana Luiza”. E ele pediu desculpas e me levou de volta a Sala de Preparo. A outra mãe saiu apressada, mas me deu um abraço apertado e pediu pra eu me tranquilizar. Tudo daria certo.

Ana Luiza foi a primeira a sair para o Centro Cirúrgico e estava sendo a última a voltar. Aquilo me desesperava. Depois de 2h de uma espera angustiante, finalmente o enfermeiro me chamou.

Ela estava dormindo na maca. Estava gelada e tremendo. Chamei a enfermeira que colocou mais um cobertor e um aquecedor. Parecia um secador de cabelo gigante, soltando ar quente dentro das cobertas. O nariz dela estava levemente sujo de sangue e a boca bem seca. A enfermeira pediu que eu deixasse ela acordar espontaneamente, para que ela não se assustasse.

Eu estava sem celular e imaginava o desespero do Marcos e dos nossos pais: ficaram sem notícias esse tempo todo. Chamei a enfermeira e pedi pra fazer uma ligação. Liguei para o quarto 510 e Marcos atendeu. Expliquei tudo e ele tranquilizou o resto da família.

Ana Luiza começou a acordar. Assim que abriu o olho e tentou falar comigo, a voz não saía. Ela começou a chorar muito e, do nariz, escorreu um pouco do sangue que estava ressecado. A voz estava rouca e ela tentava dizer que a garganta doía muito. A médica veio e disse que era normal, em virtude do tubo endotraqueal que ela tinha utilizado durante a cirurgia. Mas que em 1 ou 2 dias a garganta ficaria boa.

A médica a avaliou e disse que ela estava bem e que assim que estivesse mais disposta poderíamos ir para o apartamento. Percebi que a médica deu bobeira com o prontuário de Ana Luiza e assim que ela se afastou para olhar outro paciente, não resisti e folheei o prontuário. Meus olhos foram direto para a seguinte frase: “Amostra biópsia congelação coletada: Células inflamatórias, ausência de neoplasia”.

Eu tentei me acalmar e ler com calma. “Como assim?!!?! Não é maligno?” Eu pensava atordoada. Quando notei que ela me viu mexendo no prontuário larguei em cima da maca e achei que eu tinha visto errado. No fundo, tudo que eu queria era que realmente aquilo não passasse de um susto e que a biópsia mostrasse que ela não tinha algo tão grave.

Voltamos para o apartamento sãs e salvas, graças a Deus. Comentei com Marcos o que eu tinha visto no prontuário dela, mas naquele momento eu já achava que estava tendo alucinações de tanto cansaço. Pela cara que ele fez, notei que eu ficou pensando o mesmo que eu: “Bem que isso poderia ser menos grave do que pensamos”.

Ela continuava realizando vários exames. Sempre muito tranquila, ela ajudava e ficava bem quietinha para a realização das Ressonâncias, tomografias e Cintilografia. Apesar de tudo, Ana Luiza estava mais “aproveitando” a enxurrada de presentes, do que sofrendo ou se entristecendo pelo fato de estar hospitalizada, algo que nunca havia ocorrido na sua curta vida de 7 anos.

Os únicos momentos de absoluto pavor de Ana Luiza, eram as espetadas de agulha. Quando as enfermeiras entravam na sala, com a maletinha de coleta de sangue ela já começava a chorar. Em virtude de tantos remédios e exames de sangue, as veias de Ana Luiza foram para o espaço. Era preciso colocar um acesso vascular para quimioterapia, procedimento feito cirurgicamente. De forma resumida, consistia em um cateter, introduzido em uma veia de grosso calibre, para a criação de uma via de acesso permanente, onde ela receberia medicamentos e principalmente a quimioterapia, evitando picadas o tempo todo.

Mais uma vez, Ana Luiza iria para o Centro Cirúrgico, desta vez, Marcos foi acompanhá-la. Naquela altura, ela já descarregava todo o estresse em mim e ele tinha mais acesso para conversar sobre o tratamento com ela, o que passava mais tranquilidade para a pequena. Mais esperto que eu, desta vez levou o celular. Assim poderia ir me dando notícias sobre o estado dela. Fiz milhões de recomendações: “Fica segurando a mãozinha dela... tem calma... não se desespere... não acorda ela de supetão... cuida dela direitinho...”

Porque as mães acham que sabem tudo? A gente tem a prepotência de achar que somos insubstituíveis. Está aí mais uma lição: as mães não sabem de tudo. Elas nem precisam saber. Confiança. Temos que aprender a confiar. Confiar nas pessoas e principalmente confiar em Deus. Eu não conseguia sair de perto dela um único instante sequer. Até hoje ainda tenho a sensação de que tenho que estar sempre alerta, sempre ao lado, sempre a postos. Mas estou aprendendo a confiar. A entregá-la nas mãos de Deus e confiar que Ele fará o melhor por nós e que minha parte está sendo feita.

Eu fiquei no quarto de Ana Luiza, com um frio na barriga eterno. Pedi muito a Deus para protegê-la e para que tudo desse certo. E assim foi feito. Ana Luiza voltou para o quarto acordada e feliz. Ufa.

Estávamos ansiosos para saber sobre a biópsia: “Era ou não era o terrível Rabdomiossarcoma?” Os médicos, finalmente, vieram nos procurar e informaram que a biópsia tinha sido inconclusiva.

Aquilo foi um baque grande. Eles diziam que apesar de terem coletado amostras de diversas áreas ao redor do tumor, não conseguiram acessar o tumor propriamente dito e, todas as amostras coletadas, apenas evidenciaram células inflamatórias e não conteúdo celular do tumor. Informaram também que havia sido coletada uma amostra da medula óssea, que estava sendo analisada e eles aguardavam o resultado desta avaliação.

Eles programariam uma nova biópsia, dessa vez com novo acesso: pela boca. Vários outros médicos especialistas vieram nos visitar e nos dar as orientações quanto a nova biópsia, que deveria ocorrer no outro sábado, dia 02/10.

Enquanto nos preparávamos espiritualmente para mais um procedimento cirúrgico, mais uma entubação, mais uma anestesia, mais um desespero... os médicos vieram nos trazer os resultados dos outros exames que ela tinha se submetido. Foi aí que começou o pior tormento que já vivenciei em toda minha vida.