segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Olhando para trás: 18 de Setembro de 2010

Em pleno sábado, tínhamos muito compromissos. Na verdade EU tinha alguns compromissos: Exames de sangue, fezes e urina pra fazer; visitar tia Janaína na Maternidade, pois o João Guilherme nasceria de manhã cedo e, finalmente, voltar para casa, para a festa-almoço do Tio Felipe, que estava fazendo 30 anos naquele dia.

Lógico que Marcos deu risada na hora que o despertador tocou. Ele pode perder a mulher, mas a piada ele não perde jamais. Ele sempre ri, quando tenho que sair cedo e eles podem dormir a vontade. Enfim, acordei, deixei Marcos e Ana Luiza dormindo e saí de casa bem cedo rumo ao laboratório CPDE, no Millenium.

Antes de sair de casa, escuto uma “vozinha” de criança, vinda lá de fora. Era o Bernardo, nosso pequeno vizinho que tinha acabado de completar 1 ano de idade. Estava brincando de bola e fazendo aquela festa de sempre. Ele sempre foi apaixonado pela Ana Luiza. Ela aparecia e ele se jogava pro colo dela. O problema é que Ana Luiza não é muito fã de bebês. Gostava do Bernardo, mas não segurava ele no colo, de jeito nenhum. Se ele aparecia no condomínio, Ana Luiza saía gritando: “Corre, mãe!! Vem ver o Bernardo! Ele tá aqui!!”

Fiquei alguns minutos brincando com ele, e lá pelas 7h30min da manhã peguei o carro e saí. Quando estava prestes a chegar no laboratório, lembrei que havia esquecido as requisições do plano de Saúde. Voltei para casa. "Pelo menos o trânsito não está ruim", penso eu.

Poucos minutos antes de chegar pra casa, Marcos me liga e diz que Ana Luiza acordou vomitando. Meu coração disparou.

Ana Luiza estava bem a semana inteira. Só tinha reclamado de uma dorzinha no ouvido esquerdo e a tal da vista embaçada ontem a noite. A dor no ouvido, relacionamos com o dentinho de trás que estava nascendo. Demos dipirona e passou. Inclusive, o remédio foi emprestado pela tia Frida. Nem dipirona gotas tínhamos em casa. Ana Luiza não adoecia há anos. Era algo realmente desnecessário, até então.

Há anos nossa pequena não tinha nem dor de cabeça, nem febre, nem tosse, nem nariz escorrendo, nem nada. Eu já tinha ido parar em Hospital, Marcos idem. Mas Ana Luiza continuava firme.

Cheguei em casa e fui correndo checar Ana Luiza. Ela estava bem, apenas com sono e chateada por ter vomitado. Nada de febre, nada de dor. Fomos para o Pronto-socorro. No meio do caminho, ela teve vontade de vomitar de novo. Parei o carro no acostamento e ela não tinha o que vomitar, mas a ânsia de vômito persistia. O desespero só aumentava.

Entrei no carro e, tentando manter a calma, continuei dirigindo rumo ao hospital. Paramos em um semáforo e enquanto eu conversava com Ana Luiza pelo retrovisor, ouvimos um barulho, seguido de um baque forte. Acabávamos de tomar uma batida na traseira do carro. “Que legal”, penso eu. “Agora o Marcos, obsessivo-compulsivo do jeito que é, vai devorar minha alma, mesmo eu não tendo culpa”.

Desci do carro e o rapaz que estava dirigindo (ou pelo menos tentando), também desceu, já pedindo desculpas e admitindo o erro. Eu apenas me limitei a dizer: “Se você fosse uma mulher, te chamariam de barbeira. Mas como é um homem, foi apenas um erro. Tá certo”. Pedi pra ele encostar o carro no posto de gasolina próximo, para conversarmos. Ele também estava desesperado. A filha dentro do carro, também estava passando mal. Pedi o número do telefone dele e fiquei de ligar para passar o orçamento do conserto.

Mal sabíamos que aquilo representava um grão de areia, na imensidão de problemas que descobriríamos mais tarde. O que é um carro batido diante da saúde de um filho? Tanto que o carro está lá até hoje e só lembrei dele, porque estou escrevendo esse texto...

Chegando ao hospital, rápida e milagrosamente, fomos atendidos em poucos minutos. O médico avaliou, olhou os ouvidos, a garganta, a barriga. Disse que ela estava bem. Receitou sintomáticos e disse que se ela apresentasse febre, para retornar ao Pronto-socorro.

A preocupação ficou martelando na minha cabeça, mas de fato ela estava bem, e eu não tinha, a princípio, motivos para ficar preocupada. A preocupação de Ana Luiza, era a bronca que eu ia levar do papai, por ter deixado alguém bater o carro. Pode?

Em virtude do ocorrido e do enorme tempo gasto no Pronto-Socorro, deixamos de ir a Maternidade, para visitar tia Jana e João Guilherme. Nós teríamos muito tempo pra visitá-la e para brincar com o novo bebê do condomínio.

Chegamos em casa, Ana Luiza estava doida pra brincar com Lucas. Passou a tarde brincando, jogou dominó com Tio Fernando, pai do tio Felipe, jogou videogame, correu e pulou. Tudo normal, tudo rotina. Ficamos até tarde comemorando o aniversário de tio Felipe. Não era apenas um aniversário. Era uma despedida. Ele e tia Frida, dois grandes amigos, que durante os últimos 3 anos tornaram-se nossa família em Manaus, estavam indo embora do Brasil. Custava a acreditar que ficaríamos sem nossos vizinhos prediletos. Mais que isso: amigos verdadeiros. Mas já estávamos agendando o próximo encontro: Julho de 2011 estaríamos todos juntos, lotando o apartamento deles em Madri.

A tia Denise, uma das tantas amigas adultas de Ana Luiza, veio ao aniversário do Tio Felipe. Ela já tinha ido visitar a tia Jana e trouxe fotos do pequeno João Guilherme. Criança linda e saudável.

Neste dia conhecemos a família da tia Denise (mãe, irmã e cunhado) e todos, obviamente, se encantaram com Ana Luiza. Demos muitas risadas, relembrando os “causos” dela e de outras crianças. Foi muito animado.

Já era tarde e na hora de desligar o videogame e mandar as crianças para cama, Lucas e Ana Luiza se despediram com cara de enterro. Estavam doidos pra jogar mais. Nessa hora, notei que Ana Luiza estava esfregando muito o olho esquerdo, além de rodar a cabeça para enxergar a televisão.

Ela disse que estava vendo “de dois”. Meu coração gelou. Subimos para o quarto, examinei novamente os olhos, já com o desespero tomando conta de mim. Não conseguia ver nada de anormal. Achei o olho esquerdo um pouco diferente, como se estivesse estrábico. Mas pensei que fosse exagero meu. Fiquei com ela na cama e rapidamente adormeceu.

Eu, obviamente, fui pro Doctor Google, me acabar no cybercondrismo. Mas não consegui nenhum “pseudo diagnóstico”. Menos mal. Teria infartado, se tivesse aberto as páginas que o google me mostraria alguns dias depois!

3 comentários:

  1. Emocionada com os relatos, Carol.

    Delicadamente e profundamente escrito, a gente sente o teu imenso amor e dedicação por Aninha em cada palavra.

    Vai virar um best-seller sobre a história de luta e vitória de Aninha, espalhando pro mundo inteiro uma mensagem de fé, esperança e cura. ;)

    #ForcaAnaLuiza

    Beijão nessa pequena grande menina linda!

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  2. Oi Carol! Eu sou a Luana, vc não me conhece, mas eu até te liguei aqui de Campinas. (não sei se vc vai lembrar). Tenho acompanhado vcs no twitter e toda a história da Ana Luiza na sua luta para ser curada. Tenho orado muito por ela. Estamos esperando o milagre. Sua família já se tornou especial pra mim.
    Tenho um blog tbm e se vc precisar de algo me avise.
    Mesmo nos dias mais tristes e silenciosos Deus está com vc! E qnd tiver noites frias segure nas mãos DELE.
    Que o Senhor renove as forças de vc e do Marcos e principalmente da Ana Luiza.
    Fiquem c Deus

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  3. Continuando a ler sua história. Ela está ganhando fama graças a internet, mas seria maravilhoso se a vissemos como um livro.
    email: jack-sampaio@hotmail.com
    twitter: @jacksampaio

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