Acordei no dia 17 de setembro de 2010, como se fosse um dia normal. E era um dia normal. O celular do Marcos indicava que já era hora de levantar. Ele me acorda, eu me espreguiço e levanto da cama. Ele, como sempre, se esparrama sobre o meu lado da cama e dá uma risadinha da qual já me acostumei e que com o tempo passei a gostar. Ele ainda vai cochilar por mais 15 minutos enquanto eu vou fazer minhas obrigações maternas. Ao abrir a porta do quarto, já sinto aquele bafo. O típico calor de setembro: “Ê, calorão de Manaus...” penso eu.
Com o céu ainda escuro, chamo minha pequena e como sempre ela me ajuda: Vai pro banheiro e se arruma sozinha, enquanto eu desço para cozinha e preparo o café da manhã. Eu não tenho uma filha. Eu tenho uma amiga. Ela me ajuda, mesmo tão novinha, mesmo com tanto sono, mesmo acordando tão cedo.
Ela desce as escadas rindo, feliz e vestida com seu uniforme de educação física. Pede que eu a ajude com o cadarço do tênis. Já está com 7 anos, mas ainda não aprendeu a dar o laço no cadarço. E também ainda não aprendeu a nadar, penso eu. “Mas até o final do ano ela aprende. Questão de honra”. Finalizo o pensamento.
Às 06h20min da manhã saímos de casa, Marcos, Ana Luiza e eu. O trajeto era o de sempre: Deixar papai no trabalho, ouvindo músicas do celular. A gente já estava começando a enjoar do CD novo do Pato Fu, com instrumentos de brinquedo e vozes de crianças, mas sem dúvida era uma excelente escolha. Dica do tio João Pedro. O segundo destino era deixar Ana Luiza no colégio e a partir dali, ir para o trabalho. Quer dizer, a primeira das duas empresas onde trabalho.
Deixei Marcos no seu destino, a música agradável ia embora com ele. O jeito era sintonizar na rádio e dar boas risadas. Ana Luiza teve mais uma crise de riso ouvindo a propaganda eleitoral de 2010. Especialmente o jingle da candidata Marilene Corrêa. Ela adorou, principalmente porque naquela semana tinha visto, pela primeira vez, a propaganda na TV da candidata e rolando de rir na nossa cama, implorava pra terminar de ver a Propaganda Eleitoral inteira antes de dormir. Deu risada do jingle do Arthur e o pior, da cara da Vanessa. Eu filmei. Escondida, pois ela detesta ser filmada. Mas filmei a risada toda. É gostoso de ver. Quem sabe um dia eu publico o vídeo.
Chegamos ao colégio. Estacionei o carro e fui até a sala de aula com a pequena. A rotina era a mesma: Estaciono o carro, pego a mochila e a lancheira no porta-malas do carro, entramos de mãos dadas na escola. Ela cumprimentando todos. Ao chegar perto da sala de aula corre pra dar um abraço na tia Sol e leva a mochila para o lado da porta da sala. Todos os dias são assim. Todos os dias.
E como todos os dias, me despedi dizendo que se ela sentisse qualquer coisa, falasse pra tia Amélia. Lembrei da dor no ouvido esquerdo que ela sentiu no início da semana e perguntei se ela ainda sentia. Ela disse que “de vez em quando dói um pouquinho... mas passa”. Reforcei que se ela sentisse algo, que pedisse para a tia Amélia me telefonar. Dei beijos, me despedi e disse que a amava. Ela completou dizendo: “Mais que tudo nessa vida?” Eu disse: “Claro”. Outra rotina. Ela olhou pra mim e disse: “Vou ficar com saudade mamãe, mas a gente se vê na saída”.
Segui para o trabalho. Muita coisa pra fazer. Treinamentos e documentos para serem preparados. A sexta-feira é um dia cheio. Sempre foi. E trabalhando em duas empresas, a dor de cabeça duplicava.
Na verdade eu estava um tanto ansiosa pois tinha exames para fazer no dia seguinte. A forte cólica abdominal que tive na semana anterior realmente tinha me assustado e depois de ter ido à consulta com a médica, tinha uma bateria de exames para realizar. Faria tudo no sábado, com tranquilidade e sem precisar me ausentar durante a semana.
Fui buscá-la no colégio ao meio dia, almoçamos em casa e a orientei quanto as tarefas: “Faça sozinha o que você sabe, o que tiver dúvida, quando mamãe voltar do trabalho, ela te ajuda”. De segunda a quinta, ela faz as tarefas da escola, com a ajuda da tia Luciana, ex-professora, que a lecionou na 1ª série. É quase uma filha postiça da tia Lu. E a dor que a tia Lu sentiria alguns dias depois não seria de mãe postiça. Seria de mãe de verdade.
A pequena ficou com dona Francisca durante a tarde e eu voltei ao trabalho. As 17h estaria de volta. Toda sexta-feira ela ficava com Dona Francisca, que aproveitava pra matar a saudade da pequena. Apesar de incansavelmente eu pedir que ela não a “mimasse” demais, era inevitável: “Ô, Dona Carol, só fico um dia com ela. Deixa eu caducar um pouco!!” Dizia a velha Fran, carinhosamente apelidada pela Ana Luiza. As duas sempre se deram muito bem. E Ana Luiza sempre teve muito carinho pela “Frântches”.
Ao invés de fazer as tarefas da escola, estranhamente Ana Luiza dormiu a tarde toda. Quando cheguei em casa, Marcos já estava terminando de ajudar nas tarefas de matemática, principalmente porque ela teria prova na segunda-feira. Terminada as tarefas e revisões, ela foi brincar com o Lucas, irmão do querido tio Felipe, que não é apenas o vizinho mais chato do mundo. Ele é o tio torto mais querido da Ana Luiza.
Jogou videogame, correu, brincou, pulou. Tudo normal. Rotina de sempre. Na hora de ir pra cama, já era tarde e ela disse que estava vendo “embaçado”. Olhei com os “olhos de mãe”. Mas não a mãe hipocondríaca, estressada e neurótica. Nunca fui assim... quer dizer, talvez um pouco, de vez em quando, quando ela era um bebê, mas passou, pronto, passou, psiiii, calma...
Continuando: Olhei com os olhos tranquilos de uma mãe que há mais de 2 anos, não precisava se preocupar com a saúde da filha. Nem gripe, nem tosse, nem espirro. A pequena era fera. Marcos e eu comentamos exatamente isso duas semanas antes. Nossa pequena tinha uma saúde de ferro. Aos 7 anos, nunca havia tomado antibiótico na vida, para vocês terem ideia. Enfim, “examinei” os olhinhos, estavam normais. Fiquei com ela na cama e em poucos minutos adormeceu.
Eu não tinha ideia, mas aquele era o começo da nossa nova vida.
Com o céu ainda escuro, chamo minha pequena e como sempre ela me ajuda: Vai pro banheiro e se arruma sozinha, enquanto eu desço para cozinha e preparo o café da manhã. Eu não tenho uma filha. Eu tenho uma amiga. Ela me ajuda, mesmo tão novinha, mesmo com tanto sono, mesmo acordando tão cedo.
Ela desce as escadas rindo, feliz e vestida com seu uniforme de educação física. Pede que eu a ajude com o cadarço do tênis. Já está com 7 anos, mas ainda não aprendeu a dar o laço no cadarço. E também ainda não aprendeu a nadar, penso eu. “Mas até o final do ano ela aprende. Questão de honra”. Finalizo o pensamento.
Às 06h20min da manhã saímos de casa, Marcos, Ana Luiza e eu. O trajeto era o de sempre: Deixar papai no trabalho, ouvindo músicas do celular. A gente já estava começando a enjoar do CD novo do Pato Fu, com instrumentos de brinquedo e vozes de crianças, mas sem dúvida era uma excelente escolha. Dica do tio João Pedro. O segundo destino era deixar Ana Luiza no colégio e a partir dali, ir para o trabalho. Quer dizer, a primeira das duas empresas onde trabalho.
Deixei Marcos no seu destino, a música agradável ia embora com ele. O jeito era sintonizar na rádio e dar boas risadas. Ana Luiza teve mais uma crise de riso ouvindo a propaganda eleitoral de 2010. Especialmente o jingle da candidata Marilene Corrêa. Ela adorou, principalmente porque naquela semana tinha visto, pela primeira vez, a propaganda na TV da candidata e rolando de rir na nossa cama, implorava pra terminar de ver a Propaganda Eleitoral inteira antes de dormir. Deu risada do jingle do Arthur e o pior, da cara da Vanessa. Eu filmei. Escondida, pois ela detesta ser filmada. Mas filmei a risada toda. É gostoso de ver. Quem sabe um dia eu publico o vídeo.
Chegamos ao colégio. Estacionei o carro e fui até a sala de aula com a pequena. A rotina era a mesma: Estaciono o carro, pego a mochila e a lancheira no porta-malas do carro, entramos de mãos dadas na escola. Ela cumprimentando todos. Ao chegar perto da sala de aula corre pra dar um abraço na tia Sol e leva a mochila para o lado da porta da sala. Todos os dias são assim. Todos os dias.
E como todos os dias, me despedi dizendo que se ela sentisse qualquer coisa, falasse pra tia Amélia. Lembrei da dor no ouvido esquerdo que ela sentiu no início da semana e perguntei se ela ainda sentia. Ela disse que “de vez em quando dói um pouquinho... mas passa”. Reforcei que se ela sentisse algo, que pedisse para a tia Amélia me telefonar. Dei beijos, me despedi e disse que a amava. Ela completou dizendo: “Mais que tudo nessa vida?” Eu disse: “Claro”. Outra rotina. Ela olhou pra mim e disse: “Vou ficar com saudade mamãe, mas a gente se vê na saída”.
Segui para o trabalho. Muita coisa pra fazer. Treinamentos e documentos para serem preparados. A sexta-feira é um dia cheio. Sempre foi. E trabalhando em duas empresas, a dor de cabeça duplicava.
Na verdade eu estava um tanto ansiosa pois tinha exames para fazer no dia seguinte. A forte cólica abdominal que tive na semana anterior realmente tinha me assustado e depois de ter ido à consulta com a médica, tinha uma bateria de exames para realizar. Faria tudo no sábado, com tranquilidade e sem precisar me ausentar durante a semana.
Fui buscá-la no colégio ao meio dia, almoçamos em casa e a orientei quanto as tarefas: “Faça sozinha o que você sabe, o que tiver dúvida, quando mamãe voltar do trabalho, ela te ajuda”. De segunda a quinta, ela faz as tarefas da escola, com a ajuda da tia Luciana, ex-professora, que a lecionou na 1ª série. É quase uma filha postiça da tia Lu. E a dor que a tia Lu sentiria alguns dias depois não seria de mãe postiça. Seria de mãe de verdade.
A pequena ficou com dona Francisca durante a tarde e eu voltei ao trabalho. As 17h estaria de volta. Toda sexta-feira ela ficava com Dona Francisca, que aproveitava pra matar a saudade da pequena. Apesar de incansavelmente eu pedir que ela não a “mimasse” demais, era inevitável: “Ô, Dona Carol, só fico um dia com ela. Deixa eu caducar um pouco!!” Dizia a velha Fran, carinhosamente apelidada pela Ana Luiza. As duas sempre se deram muito bem. E Ana Luiza sempre teve muito carinho pela “Frântches”.
Ao invés de fazer as tarefas da escola, estranhamente Ana Luiza dormiu a tarde toda. Quando cheguei em casa, Marcos já estava terminando de ajudar nas tarefas de matemática, principalmente porque ela teria prova na segunda-feira. Terminada as tarefas e revisões, ela foi brincar com o Lucas, irmão do querido tio Felipe, que não é apenas o vizinho mais chato do mundo. Ele é o tio torto mais querido da Ana Luiza.
Jogou videogame, correu, brincou, pulou. Tudo normal. Rotina de sempre. Na hora de ir pra cama, já era tarde e ela disse que estava vendo “embaçado”. Olhei com os “olhos de mãe”. Mas não a mãe hipocondríaca, estressada e neurótica. Nunca fui assim... quer dizer, talvez um pouco, de vez em quando, quando ela era um bebê, mas passou, pronto, passou, psiiii, calma...
Continuando: Olhei com os olhos tranquilos de uma mãe que há mais de 2 anos, não precisava se preocupar com a saúde da filha. Nem gripe, nem tosse, nem espirro. A pequena era fera. Marcos e eu comentamos exatamente isso duas semanas antes. Nossa pequena tinha uma saúde de ferro. Aos 7 anos, nunca havia tomado antibiótico na vida, para vocês terem ideia. Enfim, “examinei” os olhinhos, estavam normais. Fiquei com ela na cama e em poucos minutos adormeceu.
Eu não tinha ideia, mas aquele era o começo da nossa nova vida.
Olá Carol, apesar de não conhecer a família tenho acompanhado o momento difícil que vocês passam. Sempre coloco a Ana Luiza em minhas orações e hoje mesmo fui à missa e rezei pela sua saúde da sua princesa. Tenho fé em Deus que sua filha vai se recuperar e no final tudo vai dar certo. Bjs e #ForcaAnaLuiza.
ResponderExcluirVanessa Mota (@vanessamota_)
sinto que vou me emocionar muito a ler. sei lá mesmo não tendo idéia da dor agente imagina com alguem que nos é querido.
ResponderExcluiremail: jack-sampaio@hotmail.com
twitter: @jacksampaio